Região dos Lagos Chilenos e Argentinos

Malague_LosAngeles

1º dia – Domingo (10/02/2013) – Saímos às 6h40min da manhã lá de casa e a viagem até a chegada à Argentina foi bem tranquila.

Ao entrar no Uruguai por Rivera pensei que ia tomar um banho de chuva tinha umas nuvens pretas no horizonte e parecia estar chovendo forte. Mas felizmente a chuva passou de lado.

Ao entrar na Argentina também muitas nuvens no céu e relâmpagos no horizonte.

Chegamos a Gualeguaychu de tardezinha por volta das 18h30min e para nossa surpresa todos os hotéis da cidade estavam lotados. Além de ser feriadão na Argentina tinha carnaval na cidade o que contribuiu para a superlotação dos hotéis.

Tanto Eu como o Omar já estávamos exaustos, pois havíamos percorrido mais de 1000 km, a ideia de ter que fazer mais 158 km para chegar até Zarate não me agradava muito, mas não teve outra saída.

Voltamos pra rodovia e “ripa na chulipa” só 130 e 140, ainda bem que a pista é toda duplicada.

Chegamos a Zarate já bem escuro acho que perto de 10h00min da noite, ao chegar lá descobrimos que todos os hotéis também estavam lotados.

Por sorte no primeiro que chegamos tinha um quartinho com uma cama auxiliar e bem na hora que eu cheguei ao hotel já chegaram mais dois casais de Argentinos que também queriam o quarto.

Fui atendido por uma senhora bem idosa com uma voz rouca, parecia a Inesita Barroso, uma figura.

Mas como cheguei primeiro o quarto ficou para mim, mas tive que decidir rápido senão já iria perder esse.

Nunca uma cama foi tão bem vinda, dormi como uma pedra a noite toda. Ah e pra minha surpresa ainda choveu durante a noite, escapamos por pouco da chuva, cheguei até a pegar umas gotas antes de chegar a Zarate.

d

2º dia – Segunda-Feira (11/02/2013) – Acordei bem tranquilo e sem pressa preparamos as coisas tomamos café e seguimos viagem, o objetivo era passar por Junin que fica na Grande Buenos Aires e depois rumar em direção a San Rafael já no Oeste da Argentina. Esta viagem também foi bem tranquila as estradas são excelentes e a paisagem por esta rota também é muito bonita com muitas plantações de soja, milho e criações de gado.

Na medida em que agente se aproxima de San Rafael já começam a aparecer as plantações de frutíferas, milhares de hectares muito lindo.

Bom como a estrada é maravilhosa não deu pra resistir de puxar bem o acelerador e daí obviamente o consumo de gasolina aumenta, resultado ao chegar a General Alvear 100 metros antes do posto de Gasolina a moto apaga, acabou a gasolina. Ainda bem que só faltavam 100 metros, foi muito engraçado chegando ao posto empurrando a moto.

Após abastecer, já era de tardezinha, optamos por fazer mais 90 km para ir até San Rafael, afinal é uma cidade maior com mais hotéis e melhor infraestrutura. Para surpresa nossa também todos os hotéis lotados, só após quatro tentativas conseguimos um para ficar, já era tarde acho que umas 21h. É uma tarefa complicada ficar procurando hotéis numa condição dessas, parece que o cansaço se multiplica nesses minutos finais e a gente sempre fica apreensivo, imagina se não encontrar nada?

3º dia – Terça-Feira (12/02/2013) – Hoje saímos bem tranquilos de San Rafael, pois o objetivo era andar só 500km para chegar até Talca no Chile. E como essa travessia é muito bonita a ideia era fazer bem devagar para curtir bem, além do mais tem uns 60 kilômetros de rípio (estrada de terra) ainda o que é um fator complicador.

Mas ao chegar a Malargui que é a ultima cidade antes da fronteira descobrimos que não tinha gasolina em nenhum dos dois postos da cidade. E é uma cidade turística é para cá que vem os turistas no inverno para praticar esqui nas montanhas da região, tem várias estações de esqui.

Bom, chegamos ao posto na frente da bomba e o frentista já foi avisando “no tiene nafta” e avisou que o caminhão só chegaria às 14h mas, como já era meio dia eu disse, ah então já vamos ficar aqui esperando né? seremos os primeiros da fila. Então o frentista falou. — Não, o Senhor terá que entrar naquela fila lá, e apontou para o outro lado da rua, nisso também chegou outro casal de motociclistas que estavam em viagem em uma DUCATI Multistrada 1200.

Olhei para o outro lado da rua e aquela fila de carros e desanimei, tinha 62 carros já esperando na fila pra abastecer.

Conseguimos abastecer as motos só às 16h30min e não daria mais tempo de fazer a travessia, pois ia ficar muito tarde e a Aduana da fronteira fecha às 18h00min. Pelo menos conseguimos um bom hotel para ficar e hoje poderei dormir mais cedo e descansar bem. Viajar de moto é muito bom, mas não dá pra negar que é cansativo, mas isso faz parte da aventura, eheheh.

4º Dia – Quarta-Feira (13/02/2013) – Hoje levantamos bem cedo, por volta das 06h00min da manhã, a ideia era tomar café às 06h30min e no máximo 07h00min queríamos estar na estrada, porém, quando estávamos carregando as malas nas motos eis que apareceu um casal de cariocas. Digo um Gaúcho de Bento Gonçalves casado com uma carioca e mora no Rio de Janeiro. Eles estavam fazendo uma viagem do Rio de Janeiro até Uschuaia com uma camioneta Toyota 4×4, logo começamos a conversar sobre viagens, tomamos café junto com eles e no fim das contas acabamos saindo quase 08h00min da manhã. Mas isto que é o legal de viajar, como você encontra pessoas legais por esse mundão afora. Aliás, uma constatação que fiz, uma pessoa que viaja bastante nunca é uma pessoa mal humorada, pessoas que viajam sempre estão de bem com a vida.

Bom, o deslocamento por esse caminho que usamos para cruzar a Cordilheira (Paso Pehuenche) é bem heterogêneo, possui trechos de asfalto, trechos com asfalto em construção e partes que ainda são de rípio, cerca de 60 km ainda são rípio.

A uma certa altura passei por um casal de ciclistas com suas bikes carregadas de bagagens, logo pensei comigo, isto é uma cena impar, de onde será que são? Para onde vão? Então parei a moto e retornei para matar minha curiosidade, quando me aproximei logo vi que só podiam ser europeus e já saí falando em Inglês e me apresentando. Logo descobri que eram alemães da região da Bavária e que eles já estavam viajando a dois meses de bicicleta, sendo que o objetivo deles era rodar por sete meses cruzando o Chile, a Argentina e Uruguai. Fiquei estupefato com tal façanha, não é possível registrar em palavras a admiração que sinto por pessoas assim.
Seguindo viagem a travessia foi tranquila com muitas paradas para fotografias e admiração das belas paisagens. A cordilheira dos Andes é mágica ela transmite uma paz e tranquilidade tão grande que dá vontade de ficar lá sentado e meditando por horas. É até um contrassenso dizer isto porque na verdade aquela região é submetida a grandes pressões geológicas de todas as ordens, pois ali é o encontro da placa tectônica sul americano com a Placa Nazca além de ter muitos vulcões adormecidos.

Ao chegar à Aduana Chilena encontramos um outro motociclista que veio da Inglaterra, ele mandou a moto de avião para poder viajar aqui pelas Américas. O projeto dele é viajar durante 2,5 meses. Conversamos um pouco com ele, uma figuraça todo barbudo e um jeitão de roqueiro dos anos 60.

Chegamos a Talca por volta das 16h00min e logo procuramos um posto desses da COPEC que possui serviços como restaurantes e tudo o mais.

Queríamos apenas comer um lanche, mas quando vi que tinha um bifê com comidas bem gostosas não resisti e já fui pedindo um prato com direito a uma baita coxa e sobrecoxa de frango bem assado. Uma delícia para quem ainda não tinha almoçado até aquela hora.

Fomos até Los Angeles onde pernoitamos.

5º dia – Quinta-Feira (14/02/2013) – Saímos no horário normal, acho que umas 08h00min ou 08h30min rumando em direção à Villa Rica e Pucón que estavam no roteiro previsto. Um pouco antes de Villa Rica começou a chover, isto não estava no script, tivemos que parar para colocar a capa de chuva.

Não sei por que, mas eu não estava me sentindo muito bem, com dor de cabeça e um leve mal estar, devia ser por causa do vinho que eu tomara no restaurante na noite anterior e eu ainda estava com estômago vazio. Seguimos em frente até Villa Rica com um tour básico pela cidade, aproveitei para tomar um flaconete de remédio para fígado o que ajudou a aliviar um pouco.

Após rumamos à Pucón chegando lá por volta das 15h00min, após umas voltas básicas achamos que
seria melhor ficar por lá mesmo, já que o tempo não estava dando sinais de que a chuva iria parar e além do mais a cidade é muito linda. Valeu a pena ter ficado lá. Ainda encontramos um casal de Florianópolis por lá e eles disseram que é a Sexta vez que eles vão para lá de tanto que eles gostam da cidade. Eu fico imaginando cá com meus botões para alguém ir seis vezes consecutivas a um mesmo local é porque este local deve ser muito bom vocês não acham?

6º dia – Sexta-Feira (15/02/2013) – O objetivo de hoje é chegar até Puerto Varas. Passamos por várias cidadezinhas muito charmosas com uma arquitetura germânica muito bela. Muitas propriedades rurais belíssimas, principalmente produtores de leite, inclusive tem uma fábrica da Nestlé bem no meio das fazendas de produção de leite.

É uma pena que a chuva engrossou, tive que redobrar os cuidados e dificultou um pouco para tirar fotos, mas a Gopro funcionou bem em cima do capacete, consegui fazer boas filmagens desse caminho.

Cidades que passamos: Panguipulli, Osorno, Puerto Octay e Frutillar. Em Frutillar dedicamos um tempo maior, pois a cidade é lindíssima toda ela com arquitetura típica alemã. Aproveitamos para comer uma cuca tradicional daqui e tomar um chocolate quente enquanto a chuva não dava trégua.

Por fim Puerto Varas onde após a tradicional romaria de procurar hotel nos hospedamos numa casa onde uma senhora aluga os quartos para hóspedes errantes como nós. Aliás, recomendo esse lugar é como se você estivesse em casa com direito a uma sala de estar completa, sala de jantar, cozinha, etc. dá pra se sentir em casa, muito legal. A dona é uma senhora idosa muito simpática e acolhedora.

P1180689_zps641cad3e

7º dia – Sábado (16/02/2013) – Hoje foi o dia para conhecer a ilha de Chilloé. Eu já tinha ouvido falar muito a respeito dessa ilha, com suas casas tradicionais, a igreja toda amarela construída em madeira e as palafitas características que são uma atração a mais. Nesta região também estão os maiores criatórios de Salmão da América do Sul, a maior parte do Salmão consumido no Brasil vem de lá.

Logo após a travessia com o Ferriboat andamos alguns quilômetros e fizemos a primeira parada e pra surpresa nossa logo em seguida chegou um casal de estrangeiros que estavam em duas motos honda 250cc, logo começamos a conversar e descobrimos que era um casal de australianos que resolveram tirar 2 anos e meio de férias para fazer uma volta ao mundo de moto.

O dia continuava chuvoso e muito frio até tive que comprar uma touca de lã pura no mercado público da cidade.

Para aproveitar bem, o certo seria ficar pelo menos dois dias na ilha e viajar até o extremo sul da mesma, visitar o parque nacional que lá está e conhecer as outras ilhas da região.
Mas o tempo urge e temos que seguir viagem, retornamos na parte da tarde atravessando novamente com o Ferriboat até Puerto Varas.

8º dia – Domingo (17/02/2013) – Ao acordar de manhã cedo imediatamente espiei pela janela para ver como estava o tempo, afinal nos últimos dois dias foram chuvosos e eu estava ansioso por um dia ensolarado. Saímos bem cedo com destino ao Vulcão Osorno contornando o lago Llanquihue deixando para trás a bela vista da cidade que margeia o lado, várias paradas para fotos a fim de registrar essas belezas inesquecíveis. Após rodar alguns quilômetros, depois de subir um aclive, subitamente lá surge o vulcão Osorno, imponente e belo como se fosse uma montanha mágica. Primeira bateria de fotos da montanha fiquei eufórico como uma criança, as nuvens de chuva já haviam sumido e o céu estava completamente azul, perfeito para fotos.

Seguindo o passeio após mais alguns quilômetros uma parada em frente a um lago onde existe um restaurante e umas duas ou três residências com um cercado na frente e alguma lhamas que estão ali se alimentando de feno. Mais fotos e mais um tempo ali admirando aquela beleza, fiquei imaginando o privilégio daquelas pessoas que moram ali, será que elas não enjoam de ver tanta beleza todos os dias? Bom, seguindo o roteiro e antes de chegar ao vulcão Osorno fomos até o Parque Nacional Vicente Pérez Rosales, mais precisamente até as cascatas de Petrohue, um lugar espetacular com várias quedas d´água e uma vista cinematográfica para o Vulcão Osorno. Seguindo mais alguns kilômetros chegamos ao lago Petrohue na entrada ao parque Parque Nacional Vicente Pérez Rosales onde tem um hotel de luxo e um parque com cabanas e espaço para acampamentos.

Após esta pausa seguimos ao objetivo principal, o Vulcão Osorno. A subida até o pé do Vulcão já é uma aventura, a estrada em forma de caracol possui alguns mirantes. Numa dessas paradas encontramos um casal de Suíços que estavam viajando de motor home. Ficamos um tempo batendo papo com eles, em inglês e alemão tudo misturado. Eles já estavam viajando a sete semanas e já tinham percorrido 15000 km pelo Chile e Argentina. Eles inclusive abriram o motor home para nós e mostraram como é por dentro, também mostraram a foto da moto que eles usam para viajar pela Europa, uma Honda Goldwing de 1800 cilindradas.

Ao chegar ao pé do vulcão, quero dizer joelho, porque na verdade o pé é lá embaixo onde começa a subida. Nesse ponto intermediário tem um teleférico que levam as pessoas até uma altitude de 2100 metros onde já começa o gelo e as pessoas ficam ali brincando no gelo e até escorregando no gelo, adultos brincam como se fossem crianças.

Após algum tempo ali descemos e rumamos em direção à Argentina novamente, tendo como objetivo Villa la Angostura através doPasso Pérez Rosales.

Antes de prosseguir viagem uma parada numa dessas tendas de beira de estrada para comer uns pastéis de Salmão e tomar um suco típico da região.

Após passar a aduana da Argentina e já seguindo em direção a Villa La Angostura nos deparamos com as cinzas do vulcão chileno Puyehue, sim, esse mesmo o que cobriu de cinzas a Região de Bariloche em 2011. Montes e montes de cinzas ao lado da estrada e em meio às florestas nativas da região, aliás, por um bom trecho ao longo da rodovia a floresta está morta e mais parece uma floresta fantasma.

Chegamos quase ao anoitecer em Villa La Angostura, já muito cansados por esse dia intenso de atividades, no primeiro hotel que encontramos já fomos ficando mesmo com o preço relativamente
salgado.

9º dia – Segunda-Feira (18/02/2013) – Estava muito frio de manhã, as motos que ficaram na área descoberta do estacionamento e ficaram com uma leve camada de gelo. Bom, hoje seguimos o passeio com destino à San Martin de Los Andes. Na verdade, o plano de hoje seria ir até Bariloche, mas a saudade das esposas já bateu e de comum acordo decidimos abortar Bariloche para anteciparmos o retorno em um dia, desta forma Bariloche fica para uma próxima viagem, quem sabe agente vem com as esposas de avião.

O roteiro de hoje é chamado de caminho dos sete lagos saindo de Villa La Angostura são 108 kilômetros de uma beleza indescritível, a cada poucos kilômetros tem um lago, cada um com um nome. Esses lagos são todos formados a partir do degelo da cordilheira dos andes e são límpidos e cristalinos, autênticos espelhos naturais. Após andar acho que uns dez kilômetros acaba o asfalto e começa o rípio, que é a estrada de terra com as pedras características da região, nesse momento percebo que o problema dos amortecedores da moto está mais grave que eu imaginava, a moto batia toda e a trepidação era insuportável, pois os amortecedores não absorviam absolutamente nada dos solavancos. Ainda tentamos ir até a Vila Traful que é um vilarejo mais isolado que fica na região e o Omar queria muito conhecer aquele local, porém, após andar alguns quilômetros desistimos porque seriam 25 kilômetros para ir e mais esse tanto para voltar. Com grande dificuldade consegui vencer os 32 kilômetros dessa estrada, acho que levei umas duas horas para percorrer esse trecho. Quando o asfalto retornou paramos um pouco na beira da estrada, minha bexiga já estava estourando, pois já estava me segurando umas duas horas e não queria parar no meio daquele rípio, desci um pouco o barranco e ufaaa, que alívio.

Seguindo o caminho até San Martin de Los Andes, mais lagos e belas paisagens, até o cartão de memória da câmera encheu e tive que trocá-lo por outro reserva que tinha na minha mochila.

Chegamos a San Martin de Los Andes lá pelas 13h00min e depois de um breve tour procuramos um restaurante para almoçar. Saímos de lá umas 16h00min horas com destino a Junin de Los Andes. Chegando a Junin de Los Andes vi uma oficina de motos e parei para falar com o mecânico, porém ele não tinha como fazer o conserto e recomendou que fôssemos até Neuquém onde teria mais recursos. Após uma breve reunião sobre qual caminho seguir, optamos por seguir para Zapala, pois Neuquém daria uns 350 kilômetros dali e acabaríamos ter que andar à noite o que não é muito aconselhável.

O caminho para Zapalla também é muito bonito, trata-se de um trecho da ruta 40 uma das mais famosas estradas da Argentina. Chegamos a Zapalla de tardezinha e depois de mais uma romaria a procura de hotéis conseguimos um que tinha estacionamento. Sim isso mesmo, foi uma dificuldade achar um hotel que tivesse estacionamento, a maioria dos hotéis lá não tem estacionamento e o veículo tem que ficar na rua. O hotel Hue Melen era também um casino, por sinal muito bom, tanto o atendimento como o ambiente.

10º dia – Terça-Feira – O objetivo de hoje era tentar ir o mais longe possível, não sabíamos exatamente onde estaríamos a noite. Por volta das 11h00min da manhã chegamos a Neuquén e mais uma vez tentei achar uma oficina para consertar os amortecedores da moto, primeiro fui até uma concessionária BMW, por sinal uma baita concessionária com todos os modelos de motos que a BMW tem disponível. Falei com o atendente que me indicou o endereço de uma revenda Yamaha, fomos até a tal concessionária onde fui atendido por um argentino com sotaque de italiano. Horrível para conseguir entender o que o cara falava, no fim das contas ele não tinha o reparo e também não tinha como fazer o conserto e me aconselhou seguir viagem com cuidado.

À tardinha por volta das 19h00min chegamos à cidade de Santa Rosa na província de La Pampa, região central da Argentina e decidimos ficar por ali mesmo. Quando estávamos nos deslocando em direção ao centro da cidade avistei uma concessionária Yamaha e resolvi parar ali para mais uma tentativa de resolver o problema da suspensão, pelo menos a dianteira que estava vazando muito óleo e o motor já estava todo melecado sem contar que o óleo estava descendo as bengalas e molhando as pinças de freio e isto já representava um perigo a mais.

Após explicar o problema ao chefe da concessionária ele disse que não tinha como fazer o concerto, pois os mecânicos dele não eram treinados para trabalhar com motos grandes, além do mais já estava quase no fim do expediente. Mas ele queria me ajudar de qualquer jeito, então pegou o telefone e primeiro ligou para o distribuidor de peças para ver se tinha o reparo para a minha suspensão, por sorte tinha, bom, a peça estava garantida, mas e agora quem poderia fazer a troca do reparo. Mais uma vez ele pegou o telefone e disse para mim, vamos dar um jeito de resolver seu problema você não pode viajar assim é muito perigoso e ligou para outro mecânico independente e chamou-o para vir até a concessionária. Depois de examinar a moto e conversarmos um pouco ele decidiu levar a moto até a oficina dele e fazer o conserto, respirei aliviado. Deixamos a moto na oficina e enquanto isso fomos até o centro procurar por hotel e algum local para jantar, retornamos lá pelas 10h30min à oficina e o mecânico estava fazendo só os ajustes finais, e assim se foi mais um dia.

11º dia – Quarta-Feira – É o penúltimo dia antes de chegar a casa, saímos de manhã bem cedo com o objetivo de chegar o mais próximo possível do Brasil, como a minha suspensão traseira continuava com problemas não daria para retornar por Paysandú (Uruguai) como fizemos na ida, pois nesse trajeto tem uma extensão de uns 150 kilômetros bem ruins e com pista irregular e até trechos sem asfalto.

Quando chegamos à região de Zarate na Grande Buenos Aires já começamos a pegar chuva, mas a estrada é muito boa, a maior parte duplicada e bem sinalizada, logo na saída de Zarate fomos abordados numa barreira policial. É a primeira vez que isto acontece comigo em viagens pela Argentina, existe uma fama muito negativa dos policiais da Argentina, principalmente a tal da Gendarmeria Nacional, falam muito dos policiais corruptos que ficam tentando estorquir os brasileiros e para isso inventam qualquer coisa. Então, sempre quando agente passa por uma barreira policial na Argentina ficamos preocupados, mas nesse caso o cara foi extremamente gentil e atencioso, apenas pediu a documentação e a carta verde. O meu colega já foi saltando da moto e tecendo elogios à Argentina dizendo que estávamos viajando pelo país e que o país deles era muito bonito. Eu ainda tive que pegar a minha carta verde na minha mochila que estava sendo transportada pelo meu colega Omar. Um trabalhão para desamarrar tudo abrir a mochila e tirar a papelada, depois organizar tudo e fixar os tirantes novamente.

Porque minha mochila estava na moto dele? É que como o amortecedor traseiro da minha moto estava danificado pedi para o Omar transportar minha bagagem a fim de aliviar o peso na minha moto.

Depois dessa breve interrupção seguimos viagem, o tempo estava muito fechado e chovendo fraquinho, só que gradativamente a chuva foi se intensificando e também estava escurecendo rapidamente o que tornava mais difícil a pilotagem. Pilotar moto nessas condições exige mais esforço de concentração e agente cansa muito mais rapidamente. O meu colega Omar foi ficando mais para trás, pois ele já usa óculos e a pilotagem noturna e com chuva é muito mais difícil para ele, desta forma tive que controlar um pouco os ânimos no acelerador senão ele acabaria ficando muito para trás o que não é bom numa viagem em dupla. Lá pelas 19h30min já bem escuro, chegamos à cidade de Concórdia e por um relance vi um outdoor de um hotel, nossa, que alívio um hotel de beira de estrada, algo raro na Argentina, imediatamente liguei os piscas para avisar meu colega que vinha logo atrás e entramos passando por dentro do posto de gasolina e chegando até a portaria do hotel. Estávamos molhados que nem uns pintos e com muito frio, o cara da recepção ficou olhando com uma cara de desconfiado e vendo nossa cara de apavorado logo foi dizendo que o valor é 500 pesos e tem que pagar adiantado. Não tínhamos mais muito dinheiro em pesos Argentinos e o resto que havia nos bolsos tinha que ser usado para abastecer as motos, então o Omar lembrou que ainda tinha alguns dólares no bolso e perguntou: – Pode ser em dólares? Nessa hora os olhos do recepcionista brilharam, sim, sim pode ser. É que a Argentina está vivendo uma grave crise econômica e eles estão todos loucos por dólares, assim demos entrada e conseguimos um bom apartamento com ar condicionado para ajudar a secar as roupas molhadas.

Depois de nos acomodarmos e ajeitar as tralhas, lembrei que teríamos que copiar as fotos e juntar tudo num único cartão de memória para que o Omar também possa chegar em casa com todas as fotos. Comecei a procurar o meu outro cartão de memória que eu tinha tirado da máquina quando o mesmo encheu lá na região dos sete lagos, mas para minha surpresa não o encontrei na bolsa onde guardava os carregadores, microfone e outros acessórios do computador. Comecei a ficar apavorado, revirei todas as minhas coisas e nada de encontrar meu cartão de memória, isto não pode estar acontecendo, havia um dia e meio de fotos e filmagens nesse cartão, justamente as mais belas fotos estavam lá. Fiquei tentando imaginar onde pudesse ter perdido o cartão, suspeitei que pudesse ter sido no hotel lá em Zapala na segunda-feira de noite.  Já era quase meia noite quando tentei ligar para o hotel, mas não consegui, foi uma noite bem difícil, acordei várias vezes pensando nessa situação.

12º dia – Quinta-Feira – Levantamos de manhã bem cedo, acho que umas 06h00min da manhã, o meu colega Omar já estava acordado a mais tempo disse que não conseguira dormir direito, deve ser saudade da esposa e ansiedade para chegar a casa, também a preocupação com o cartão de memória. Eu também acordara várias vezes durante a noite pensando no meu cartão de memória e as fotos ali contidas.

Às sete horas da manhã estávamos pegando a estrada mesmo sem tomar café, afinal nem tinha café no hotel (o que eles lá chamam de desayuno), mas isso também não faz muita diferença porque o tal do “desayuno” deles é muito fraquinho mesmo não serve pra nada, imagina só uma media luna e uma chícara de café ou umas duas ou três fatias minúsculas de um pãozinho torrado.

Lá pelas 10h00min da manhã já estávamos em Uruguaiana, trâmites legais feitos e pé na estrada rumo pra casa. Ainda não tínhamos tomado café da manhã, por isso pouco antes do meio dia já paramos para almoçar antes de Rosário do Sul, uma boa hora para tirar as incômodas roupas impermeáveis a polaina de proteção da minha botina que já estava toda rasgada e finalmente uma boa comida brasileira com direito à feijão e arroz.

Após o almoço pé na estrada novamente e depois de uma hora pilotando me bateu uma soneira que você não faz ideia, a temperatura estava agradável, levemente morninho perfeito para estimular o sono. Mas dormir em cima de duas rodas em movimento a 100 km/h não dá né?! Tentei de todas as formas ficar acordado, ficando em pé na moto, abrindo a viseira do capacete, aumentando velocidade pra ver se injetava adrenalina no sangue ou diminuindo a velocidade, até que finalmente uma sombra de árvore e então parei a moto no acostamento, meu colega que vinha logo atrás parou também e exclamou! – Cara que sonolência tá muito difícil de ficar acordado, e eu também disse to morrendo de sono e derramei uma garrafa de água na minha cabeça, o meu colega Omar não tinha mais água com ele e começou a procurar água na beira da estrada, e acabou pegando uma garrafa de água que estava enfiada num galho de árvore, abriu, cheirou parecia boa e usou para molhar a cabeça. Foram vários minutos de parada, fiz alguns alongamentos corri pra lá e pra cá e decidimos seguir viagem até o próximo posto de gasolina. Ao chegar ao próximo posto tomei uma água gelada e um cafezinho, abastecemos novamente as motos e agora a próxima e última parada seria em Pantano Grande que dá uns 160 km de São Leopoldo.

Os últimos Kilômetros da BR290 estavam bastante congestionados com caminhões e carros, mas conseguimos chegar a casa com mais uma aventura no currículo motociclístico.

Números da viagem: 7263 km e 370 litros de gasolina uma média de 19,6km/L.

EM TEMPO: Uma semana depois quando já estava em casa, mandei um e-mail para a administração do hotel implorando que tentassem localizar o meu cartão. Para surpresa minha alguns dias depois recebi a resposta, a camareira havia encontrado o cartão e guardado nos achados e perdidos do hotel. Pediram meu endereço e enviaram para mim pelo correio. Fiquei muito grato a eles pela atitude, com certeza um dia voltarei para lá a fim de levar um presente para a camareira que achou e guardou o cartão e a assistente administrativa que se encarregou de despachar o cartão para mim.

Deixe uma resposta