Pelo Brasil

Já fazia algum tempo que eu me preparava para mais uma viagem de moto, só que dessa vez eu queria conhecer mais um pouco do nosso Brasil.

Inicialmente eu tinha planejado fazer uma volta completa saindo de São Leopoldo (RS) até São Luis do Maranhão (MA) e voltando pelo litoral passando por todas as capitais do litoral brasileiro.

Ao lado o mapa original.

O problema é que para fazer uma viagem dessas com qualidade o certo seria tirar pelo menos 30 dias de férias do contrário acabamos tendo que passar correndo por lugares onde seria bom ficar um pouco mais para conhecer melhor.

Outro fato é que viajar de moto é muito mais cansativo do que de carro e este é mais um motivo para se ter pausas para descanso ao longo da viagem.

Um ano antes olhei no calendário e constatei que a melhor época seria entre Abril e Maio pois teríamos alguns feriadões como por exemplo a Sexta-feira Santa que emenda com 21 de abril (feriado de Tiradentes) e logo em seguida o dia 1 de maio que facilmente poderia ser transformado num feriadão. Dessa forma eu que dirijo uma empresa posso sair com mais facilidade sem perder muitos dias úteis.

Convidei alguns amigos para irem junto, um deles que já tinha viajado comigo em 2013 para o Chile topou o convite porém ele sugeriu mudanças no roteiro a fim de encurtar as distâncias e diminuir o número de dias na estrada.

Após várias reuniões e negociações de roteiro chegamos a um consenso, porém tinha um que eu não abria mão, o de que minha esposa fosse a Salvador (BA) a fim de passarmos o feriadão juntos no Morro de São Paulo. No fim consegui que a minha esposa e a esposa do meu colega fossem de avião até Salvador para passarem o feriadão conosco no Morro de São Paulo.

Desta forma o roteiro e cronograma tinha que ser estruturado para chegarmos em Salvador até quinta ou Sexta-feira (18/04).

A seguir o mapa final da viagem:

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A VIAGEM

Bom até que enfim chegou o grande dia, saímos no domingo dia 13/04 às 6:30 da manhã com o objetivo de chegar até Registro (SP).

No segundo dia o objetivo é chegar até Paraty (RJ), nesse dia foi um pouco complicado pois em vários momentos o tempo alternava entre calor e chuva o que nos obrigou a colocar as capas de chuva, felizmente eu tenho uma capa de peça única, um macacão que importei dos EUA. Um material muito bom, impermeável mas que permite o corpo respirar, portanto não tem problema do corpo esquentar demais e transpirar.

Já o meu colega sofreu um pouco pois as capas de chuva tradicionais esquentam demais e não deixam o corpo respirar.

As várias paradas ao longo do dia resultaram em atraso na viagem e no fim tivemos que andar um tempo à noite para cumprir com o objetivo de chegar em Paraty. Na verdade esse trecho entre Praia Grande (SP) e Angra dos Reis (RJ) deve ser feito em dois ou três dias com paradas para curtir melhor as lindas praias que existem nesta rota. Bom, chegamos em Paraty por volta das 19:30 muito cansados. Ficamos no Hotel Canoas, um excelente hotel com bom atendimento e um excelente café da manhã.

Terça-feira (15/04)

Saímos por volta das 9:00 da manhã de Paraty. O objetivo de hoje é chegar até Armação dos Búzios (RJ). Cruzar a Ponte Rio-Niterói era um momento que eu estava esperando com ansiedade, eu tinha muita curiosidade de conhecer de perto esta ponte tão famosa. No caminho para Búzios observei os aspectos geográficos do interior do Rio de Janeiro e descobri que o Rio de Janeiro não é só a praia de Copacabana e o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro também existe agricultura e pecuária e por sinal a região interiorana é muito bela.

Chegamos em búzios já escuro porque decidimos passar por Cabo Frio e para conseguir atravessar Cabo Frio até Búzios gastamos mais de uma hora por causa do trânsito complicado e dos congestionamentos.

Quarta-feita (16/04)

P1000566_zps6bba1fbeP1000569_zps6f516cbdViagem de Búzios até Guarapari no Espírito Santo. Lá pelas 10:00 da manhã uma parada para comer uns pastéis e tomar um suco nesse paradouro que é muito famoso nesse trecho da BR 101. O lugar é o point dos motoristas que passam pela rodovia.

Me chamou a atenção o detalhe do banheiro, você não sai lá de dentro sem apertar um botão que libera a porta e simultaneamente dá a descarga no banheiro, isso é para evitar que os porcalhões de plantão não saiam do banheiro sem dar descarga

No final do dia decidimos ficar em Guarapari ao invés de Vitória devido a facilidade de acesso e a possibilidade de conhecer essa praia que é famosa por receber muitos turistas mineiros já que Minas Gerais não possui praia este é o destino favorito dos mineiros. Ficamos num hotel à beira mar com vista para a praia por um preço bem acessível. Hotel simples mas bem bacana e bem localizado.

Fotos dessa etapa da viagem:

Quinta-feira (17/04)

Objetivo de hoje é ir até Eunápolis (BA), 60km antes de Porto Seguro. Eu queria muito conhecer Porto Seguro que estava inicialmente no roteiro, mas em virtude do cronograma não foi possível dessa vez. É aquela velha história, pelo menos tenho um motivo para voltar novamente, eheheh.

Sexta-feira (18/04)

 Saímos cedo porque hoje o dia promete ser cheio de emoções, além de eu encontrar novamente minha esposa depois de 6 dias vou passar por uma das mais belas regiões da Bahia, o litoral sul baiano coberto por coqueirais e sua maior parte também possui regiões com forte produção de cacau e de café misturados em meio a mata atlântica.  Infelizmente a chuva ainda nos pegou em alguns momentos o que nos obrigou a colocar a capa de chuva o que causou um certo desconforto devido ao calor típico da Bahia.

P1000597P1000601 (1)Um destaque nessa etapa da viagem foi uma parada numa pequena praia de pescadores em Itacaré (BH), já era meio dia e aproveitamos para almoçar no restaurante Zé Senzala.

Num primeiro momento olhei com desconfiança para aquele estabelecimento rústico todo construído com barro, mas ao observar que havia vários carrões estacionados na frente e muitas pessoas bem vestidas com cara de turista, resolvi me aproximar e conferir. O interior era todo rústico com o piso e as paredes de barro, ao fundo um imenso fogão campeiro com várias panelas feitas de barro. O cheirinho estava muito apetitoso e tudo bem limpinho e organizado. Não resisti e almoçamos ali mesmo uma comida muito bem elaborada e deliciosa com variados pratos típicos da Bahia e com muitos à base de peixes.

Chegamos em Valença (BA) mais precisamente no atracadouro Bom Jardim , o ponto mais próximo do Morro de São Paulo às 17:00. A travessia com lancha rápida deste atracadouro até o Morro é de apenas 10 minutos. Ali teríamos que esperar as esposas chegarem pois elas desembarcaram no Aeroporto em Salvador às 15:00 e iriam fazer uma maratona, e que maratona. Elas desembarcaram no Aeroporto e lá pegam uma Van até o Porto em Salvador e dali, de Catamarã, para fazer a travessia até o porto de Vera Cruz na Ilha de Itaparica, depois mais uma hora e meia de VAN até o atracadouro Bom Jardim e daí mais uma Lancha para chegar ao M. de SP. Resultado, chagaram no Morro de São Paulo passado das 20:30.

Sim eu digo chegaram porque Eu e meu Colega atravessamos antes porque tínhamos que receber a casa que alugamos e o proprietário já estava ansioso nos esperando do outro lado. Aliás, a história da casa é um capítulo à parte que não vou contar aqui para não alongar muito esse post.

Segunda-feira (21/04)

Depois de passar um final de semana maravilhoso no Morro de São Paulo, decidimos sair já de manhã para evitar o período da tarde que provavelmente seria bem tumultuado devido a quantidade de pessoas que iria sair da ilha. Pegamos as motos no atracadouro Bom Jardim e rumamos em direção a Lauro de Freitas, uma pequena praia ao norte de Salvador. Inicialmente meu plano era fazer um tour por Salvador, mas devido as notícias de que estariam ocorrendo arrastões e muitos assaltos acabei desistindo da idéia. A rodovia que levava a salvador estava congestionada de carros, foram mais de 100 kilômetros nessa condição, ainda bem que de moto estamos em vantagem e soubemos aproveitar bem dessa vantagem, assim chegamos em Lauro de Freitas por volta das 17:00 e ainda deu para dar uma caminhada na orla da praia que é incrivelmente linda.

Terça-Feira (22/04)

Hoje tivemos que acordar às 5:00 da manhã pois as mulheres teriam que ir ao aeroporto às 5:30 para pegar o vôo de volta para o Rio Grande do Sul e nós seguiriamos  viagem rumo à Aracajú. Nesse caminho vale o destaque para a Praia do Forte pela sua singular beleza e principalmente pelo projeto TAMAR que desenvolve um belo trabalho de acompanhamento e pesquisa sobre as tartarugas marinhas.

Fotos da Praia do Forte:

Um pouco antes de Aracajú uma passada por São Cristóvão, uma pequena cidade a cerca de 22km de Aracajú. São Cristóvão foi a primeira capital de Sergipe, fundada em 1590 é considerada a quarta cidade mais antiga do Brasil. Uma bela cidade com a maioria dos prédios muito bem preservados.

Ao chegar em Aracajú logo tratamos de ir em direção à Orla do Atalaia a fim de localizar um hotel e conhecer esse lugar que é uma das orlas mais belas do Brasil. Um lugar digno de cartão postal com muitos hotéis, restaurantes e um projeto paisagístico lindíssimo com ciclovias e passeio para as pessoas fazerem caminhadas.
As fotos a seguir são do Rio Vaza-Barris que cuja foz é próximo de Aracajú, fotos da cidade histórica de São Cristóvao e as fotos noturnas são da orla de Atalaia.

Quarta-Feira (23/04)

Hoje nosso objetivo é ir até a Foz do Rio São Francisco, esse aliás, foi um dos principais objetivos da viagem e era um sonho meu conhecer o local onde este famoso rio se junta com o oceano atlântico.

De manhã a saída de Aracajú foi complicada devido ao trânsito intenso da cidade culminando com várias avenidas e ruas congestionadas e para complicar mais ainda nossa vida pancadas de chuva ocasionais nos obrigaram a colocar a capa de chuva.

Na metade do caminho o meu colega Omar ficou sem o freio traseiro devido ao desgaste das pastilhas, assim ele teve que redobrar os cuidados e pilotar mais devagar, além do mais esse trecho da BR 101 está em obras de duplicação com máquinas na estrada em vários trechos. Alguns trechos já estão duplicados, acredito que dentro de mais algum tempo será muito bom fazer novamente essa viagem. No último trecho de 40 kilômetros parei 3 vezes para atender um cliente com o qual eu estava em negociação devido a um projeto novo que estamos desenvolvendo. Chegamos no atracadouro Brejo Grande pontualmente 10:00, o catamarã já estava com os motores ligados para iniciar a viagem rumo à foz do rio São Francisco, por sorte ainda conseguimos embarcar. E que sorte, se tivéssemos atrasado mais 2 minutos teríamos perdido a viagem pois eles fazem só uma saída por dia em direção à foz do Rio.

Esta experiência foi inesquecível, principalmente para alguém como eu que gosta de estudar geografia e história, portanto, esse rio que é um dos mais famosos do Brasil e que frequentemente é alvo de noticiários já estava na minha lista para conhecer há muito tempo. Infelizmente este imponente rio está sofrendo devido a ação do homem, várias hidrelétricas mais dezenas de bombas que succionam a água do rio para irrigar imensas plantações de frutíferas além do mega projeto do governo de transposição que irá direcionar parte da água para as regiões mais áridas do sertão. Não vejo problema algum em usar a água do rio para irrigação, afinal o rio é exuberante e pode possibilitar essa atividade sem grandes prejuízos ao mesmo. A única construção que causou problemas ao rio é a Usina de Xingó, segundo explicação do guia após a construção da barragem o rio perdeu velocidade e agora não consegue vencer a força do mar e a consequência é que o rio está sendo assoreado com a formação de bancos de arreia no fundo. No período da maré alta por exemplo, o mar e o rio entram em um embate e a água do mar consegue subir dezenas de quilômetros rio acima. Na volta para Aracajú quase bati na traseira de um carro por causa de uma travessura minha, inventei de abrir uma garrafinha para tomar água com a moto em movimento. Eu até já tinha uma certa prática para fazer isso com a mão esquerda, abria o capacete que é escamoteável, pegava a garrafinha de dentro da bolsa de tanque, abria, tomava a água e fechava de novo e guardava, olha só quantas etapas; porém nessa ocasião havia muito trânsito e os carros pararam repentinamente. Só deu tempo de jogar a garrafinha com água para conseguir freiar a tempo. Com esse susto não fiz mais isso, eheeheh.

Quinta-Feira (24/04)

Ainda ontem ao voltarmos para Aracajú, meu colega ainda conseguiu trocar as pastilhas de freio numa concessionária Yamaha, aliás, chegamos na concessionária no apagar das luzes e eles já estavam fechando, por sorte eles ainda atenderam e em menos de 15 minutos o mecânico trocou as pastilhas de freio e ainda trocou o óleo do motor, ficamos impressionados com a rapidez. Hoje nosso objetivo é ir até Lençóis (BA), temos pela frente 614 kilômetros sendo a maior parte no semi-árido baiano. É impressionante como a paisagem muda na medida que que nos afastamos do litoral, gradativamente aquela paisagem verde começa a dar lugar ao cerrado predominando os tons de cinza. Mas eu também estava muito ansioso para ver isto e sentir de perto o calor do semi-árido nordestino. Já era cerca de 1 hora da tarde quando paramos num posto de gasolina para abastecer as motos e também nosso estômago, afinal a tarde será longa, o calor intenso e precisamos de energia para aguentar esta jornada. Tinha um restaurante bem simples ali junto ao posto, eu que sou meio “impertinente” com relação a comida já olhei meio desconfiado, será que é feito com os devidos cuidados de higiene? Mas tudo bem, o aspecto estava bom e parecia ser bem feito, só não peguei carne pois dizem que na Bahia mais de 50% dos matadouros são clandestinos e os abates de animais são feitos em condições muito precárias, procurei evitar comer carne nesse período da viagem pela Bahia.

Chegamos em Lençóis ao entardecer, após uma breve procura ficamos numa pousada grande e muito aconchegante, com direito inclusive a piscina e sala de jogos. Meu colega já estava com visíveis sinais de cansaço e ele ficou ainda mais aborrecido quando recebeu a notícia do falecimento de um grande amigo que já estava gravemente enfermo a muito tempo. Percebi que ele queria muito estar em casa e a essa altura do campeonato a viagem já estava se tornando um fardo, de forma discreta ele tentou me convencer em abortar a ida para a Serra da Canastra e rumarmos direto para casa após a visita na chapada.
Belas retas no meio do serrado baiano, dá pra dar umas boas esticadas

DSC05961_zpsc3bc6c85Sexta-Feira (25/04)

Por volta de 8:00 da manhã, após tomar um reforçado café, fomos até o centro histórico a fim de contratar um guia para fazer um tour pelos principais pontos turísticos da Chapada. O dia será puxado pois esse tour básico somaria uns 200 kilômetros entre a ida e a volta, com vários trechos de estrada de terra. A primeira parada foi na gruta da Lapa Doce onde após uma caminhada de 20 minutos pela vegetação do serrado e ouvindo as explicações sobre as curiosidades de algumas plantas e animais que vivem ali, adentramos na mesma.

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Fiquei impressionado com a beleza das formações calcáreas e a ausência absoluta de qualquer tipo de ruído. Quando estávamos no centro da gruta o guia mandou apagar as luzes e ficarmos em silêncio absoluto, pela primeira vez na vida eu senti o que é silencio absoluto.

Após 1 km de caminhada saímos do outro lado da gruta, os olhos demoram um pouco para se ajustar novamente à claridade. Subimos e retornamos ao posto de entrada da fazenda para descansar um pouco, observei meu colega de viagem e ele estava visivelmente exausto, fiquei preocupado, achei que ele não ia nem conseguir segurar a moto. A partir daquele momento eu levei o guia na garupa e fim de facilitar para ele. Seguimos em direção ao outro ponto, a gruta azul e gruta pratinha localizados na Fazenda Pratinha. Chegamos ali já por volta de 1 hora da tarde e logo tratamos de almoçar num restaurante que é mantido ali pelos proprietários da fazenda.

Depois de um banho no rio pratinha cujas águas cristalinas brotam de dentro da gruta que leva o mesmo nome, fomos até a gruta azul. Esta gruta leva este nome porque a uma certa hora da tarde o sol reflete nas águas deixando a gruta toda azulada, só que infelizmente o céu estava nublado e não foi possível ver esse espetáculo da natureza.

Saímos dali após tomar um bom sorvete de açaí a fim de recobrar as energias, o guia estava tentando me convencer a não ir ao morro do pai Inácio porque segundo ele não daria mais tempo porque a portaria fecha às 16:00 e ninguém mais pode subir por questões de segurança. Mas eu não estava aceitando isso, imagina, fazer todo esse roteiro e não ir nesse morro que é um dos mais belos, nem pensar. Dei uma boa tocada e consegui chegar na portaria que fica bem ao pé do pai Inácio para frustração do nosso guia que teve que ficar ali esperando enquanto nós escalamos os 300 metros até o topo. Posso garantir que valeu a pena, o visual lá em cima é de tirar o fôlego, ficamos lá até o pôr do sol e que pôr do sol, um verdadeiro espetáculo da natureza.

A noite o centro histórico de Lençóis é um atrativo a parte com suas ruelas de calçamento de pedras rústicas irregulares muito bem iluminadas. Dezenas de barzinhos e restaurantes atendem os turistas com pratos típicos da culinária brasileira, os cardápios são escritos em Português, Inglês e Espanhol preparados para atender turistas estrangeiros. Caminhando entre as mesas dos bares e restaurantes nas calçadas, uma verdadeira babel, podemos ouvir gente falando em alemão, francês, espanhol e inglês, um verdadeiro murmurinho multilíngue.


Sábado (25/04)

O objetivo de hoje é tentar chegar o mais perto possível da Serra da Canastra em MG. Levantamos bem cedo, tomamos café, preparamos as motos e depois de conversar longamente com um outro turista que conhecia a região e pegar umas boas dicas sobre o melhor caminho, seguimos viagem contornando a Chapada Diamantina sentido sul em direção à Mucugê. Aqui além das c
asas históricas e ruas de pedra semelhantes à Lençóis há uma atração que é destaque na cidade, o cemitério bizantino. Fizemos uma breve parada para algumas fotos da cidade e obviamente do cemitério como não poderia deixar de ser.

Depois de passar por mais algumas cidades pequenas chegamos um pouco depois do meio dia em Barra da Estiva (BA) e decidimos parar num posto de gasolina para almoçar. Mais uma vez um restaurante bem simples onde fomos atendidos por uma senhora muito simpática tipicamente baiana e já foi dizendo temos somente o prato comercial e custa R$13,00 por pessoa. Para surpresa nossa foi um dos melhores almoços de toda a viagem, comida simples com boa variedade de saladas e um bife com ovo feito na hora bem saboroso. É claro, como eu já falei anteriormente eu estava evitando carne na Bahia, mas ao fazer o pedido perguntei a ela, a carne é de boa procedência e fresquinha? Ela assegurou que sim, então resolvi acreditar afinal eu já estava a vários dias sem comer carne e estava sentindo falta de proteína.

Meu colega não queria comer carne, então insisti para ele comer a fim de ingerir uma proteína e melhorar a resistência física para aguentar o tranco da viagem.

Já estava anoitecendo quando passamos pela cidade de Divisa Alegre (MG), e decidimos procurar um hotel por ali mesmo o que foi um pouco difícil pois só tinha 4 hotéis na cidade sendo que dois eram ruins e os outros dois eram piores ainda, no fim conseguimos um razoável, só que o chuveiro não funcionava, ainda bem que os outros quartos estavam todos abertos e pude invadir um outro quarto do hotel para tomar um bom banho.

E ali então o meu colega, depois de examinar o mapa tomou a decisão definitiva de rumar direto para casa no dia seguinte.

Domingo (26/04)

Hoje levantamos cedo para tentar aproveitar bem o dia. Depois de rodar alguns kilômetros meu colega seguiu pela esquerda pela BR116 para rumar sentido sul de volta para casa e eu seguiria viagem pela 251/365 rumo oeste até Araxá (MG).  Aproveitei para enrolar o acelerador e dar umas boas esticadas naquelas retas maravilhosas de Minas Gerais, dia bonito com temperatura agradável e pouco movimento, foram 920 kilômetros percorridos até o entardecer quando cheguei em Araxá (MG). Logo na entrada da cidade cheguei num posto de gasolina e pedi informações a um casal sobre como ir até a Serra da Canastra, na verdade tinha dois casais ali um explicou para ir por um caminho e outro por outro caminho.

Eles também me indicaram um hotel o Plaza Inn Flat Araxa, um excelente hotel com um preço justo, quando entrei no apartamento nem quis acreditar, um enorme de um flat com sala de estar, cozinha, um quarto com cama de casal e um belo banheiro.

Araxá é uma cidade esplêndida, localizada na divisa com a serra da canastra e é um dos pontos de partida para a visita à serra.

Segunda-feira (27/04)

Hoje é o dia em que vou conhecer a famosa serra da canastra e a nascente do rio São Francisco, um dos principais objetivos desta viagem que já estava sendo planejada a quase um ano. Na saída de Araxá tem um posto policial e logo em seguida o primeiro acesso a Serra da Canastra, cheguei a dar uma parada e por um momento fiquei em dúvida se entraria ali ou não pois ontem quando pedi informações na chegada um dos casais me disse que se eu fosse até Sacramento seria melhor pois eu iria cruzar toda a Serra da Canastra desde o ponto norte até o ponto sul, então, resolvi seguir o conselho deles. A partir desse ponto os 70 kilômetros até Sacramento, a paisagem é muito linda, repleto de coxilhas cobertas com um pasto verde chamado “brachiária”, muito comum em Minas Gerais, além de uma grande parte coberto com plantações de café. De Sacramento até a portaria do parque  teria mais 70 kilômetros de estrada de terra, a maior parte no meio de plantações de milho. Não gostei muito da idéia de ter que percorrer 70km em estrada de terra mas segui em frente, felizmente a maior parte da estrada era excelente, melhor que muita estrada asfaltada que tem por aí. Ao chegar na portaria do parque um guarda florestal já foi dando as boas vindas e me avisou que a partir dali seriam mais 77km sendo que a maior parte em péssimas condições. Fiquei meio assustado com o que ele falou mas agora não tinha mais como voltar e segui em frente. Nos primeiros 10 km estava tranquilo, nada de assustador, até achei que o guarda tinha exagerado na recomendação, mal terminou meu pensamento e começou a buraqueira e a partir dali a coisa só piorou alternando entre ruim e péssimo com buracos, outros pontos com muitas pedras e outros pontos com poças de água e chão escorregadio, ainda bem que nos pontos onde havia água já tinham trilhos que desviavam por cima da grama pela lateral da estrada.

A maior parte você anda no altiplano da serra e praticamente não se consegue ver nada, só em alguns pontos existem os acessos que levam a alguns pontos onde se avistam os vales. Lá pelas tantas ao passar por uma possa com barro não consegui equilibrar a moto e caí, mas foi só um susto, pois eu estava muito devagar e a moto só deitou, o problema foi levantar a gordinha de 230 kilos, sem contar a bagagem, nossa que sufoco quase não consegui levantá-la. Com essa função de andar a 10 ou 20 km/h o consumo da moto aumentou consideravelmente e quando ainda faltavam uns 70 kilômetros para chegar no destino final acendeu a luz da reserva indicando que a gasolina estava chegando perto do fim.
Finalmente depois de ter andado uns 50 kilômetros apareceu a tão esperada nascente do Rio São Francisco, dizem que esta é a primeira nascente. Parei, tirei umas fotos e tomei um pouco da água, eram 3:00 da tarde e eu ainda não tinha tomado água e nem tinha almoçado.  Depois de alguns minutos ali, escutei o ronco de uma outra moto se aproximando, era mais um motociclista do sul do Brasil perdido por lá, um cara de pelotas que também estava fazendo uma voltinha básica com uma Falcon 400.

Comentei com ele que eu estava com pouca gasolina e não sabia se chegaria até São Roque de Minas, então ele disse que iria me acompanhar, caso a gasolina terminasse ele iria até a cidade buscar gasolina para mim. Assim fiquei mais tranquilo, mas nem tanto porque a estrada (quero dizer trilha) estava ficando cada vez pior e o medo de cair também.  Teve pontos em que literalmente tive que escalar as pedras com a moto, num outro ponto quase rolei barranco abaixo. Lá pelas tantas numa descida íngreme cheia de valetas no sentido longitudinal dei uma freiada com a roda da frente e não deu outra escorreguei e não consegui segurar a moto, ainda bem que dessa vez tive ajuda desse outro motociclista para ajudar a levantá-la. Quase no fim mas ainda faltando uns 4 km, encontramos uma engenheiro de uma empresa de terraplanagem fazendo uma inspeção, nesse trecho a terraplanagem já havia começado para aplainar a estrada. Conversamos um pouco com ele ali e obtivemos boas notícias, o engenheiro disse que o dinheiro já foi liberado e eles irão fazer a terraplanagem de toda a estrada da Serra da Canastra (cerca de 77kilômetros) e farão toda a base de preparação como se fosse asfaltar, mas não será asfaltado. Bom, depois de alguns minutos ali seguimos em direção a São Roque de Minas onde me dirigi direto ao único posto de gasolina da cidade, enchi o tanque e descobri que eu só tinha mais 400ml de gasolina no tanque. Após o abastecimento segui viagem rumo a cidade de Capitólio onde cheguei já bem escuro e fiquei no Cyrilos Palace hotel, por sinal muito boa relação custo benefício localizado bem na beira do lago.

Terça-feira (28/04)

Levantei bem cedo, enquanto estava tomando café, pensei comigo; bah, precisava dar uma lavada na moto pois ela estava imunda devido às adversidades do tempo por toda a viagem e também por causa do barro que eu peguei na Canastra, o baú lateral direito estava todo embarrado devido a primeira queda no barro. Bom, pra surpresa minha quando saí para ver a moto um dos funcionários do hotel estava lá com uma mangueira passando uma água nela, que maravilha pensei comigo, isso sim que é surpreender o cliente, imediatamente fui lá e já pequei um pano que sempre carrego comigo e comecei a passar um pano na moto e pedi a mangueira dizendo que agora eu terminaria o restante. Não ficou tinindo mas já melhorou bastante.

Em seguida peguei a estrada, sem muita pressa nesses primeiros quilômetros e fiz várias paradas para fotografias. Essa região é bastante turística, por também fazer parte da região da Serra da Canastra e também devido ao lago de furnas que inunda uma grande área e isso movimenta a economia da região.

Depois de visitar um cliente em Batatais (SP) fui até o Centro de Ribeirão Preto para trocar o pneu dianteiro que já estava quase na lona e aproveitei para comprar umas luvas de verão na loja Capacete & Companhia (https://www.capacetecia.com.br/) , uma loja muito boa, excelente atendimento e com boa variedade de produtos.

Ainda fui visitar uma feira de máquinas agrícolas, Agrishow e à tardinha já escuro tive que ir embora já que em Ribeirão Preto todos os hotéis estavam lotados. Na hora de ir embora um fato interessante, eu tinha estacionado ao lado de uma outra moto uma BMW R 1200 GS bem novinha, tanto a minha moto como essa estavam imundas de poeira vermelha, nesse instante chegou o dono da BMW e ficamos olhando nossas motos, e agora disse ele já tentando tirar o pó com as mãos e olhando as calças Jeans limpinhas que ele estava usando. Então eu disse, – tenho a solução para o nosso problema, e saquei um pano úmido que eu tinha no baú, por sorte o pano era grande o suficiente para limpar o banco da minha moto e o banco da moto dele. Essa foi minha boa ação do dia, eheheh.

Quarta-feira (29/04)

Levantei cedo e saí de Pirassununga às 7:00 com o objetivo de chegar o mais perto possível de casa, mas não tem jeito, mil e poucos quilômetros não é que nem ir ali na esquina. Já estava escurecendo e dei uma parada numa padaria a uns 30 kilômetros antes de Florianópolis para tomar um café. Um café e um lanche delicioso que eu curti bem devagarinho enquanto navegava pelo Facebook com o meu tablet. Nesse momento entrou online uma das minhas primas que mora em Joinville, bom, para encurtar a história acabei pernoitando em Florianópolis na casa de uma outra prima que eu já não via há muito tempo.

Quinta-feira (30/04)

Último trecho de 500 kilômetros, hoje não tenho pressa, andei tranquilo refletindo sobre tudo o que vi e senti nessa jornada de 19 dias. Foi a viagem mais longa que já fiz e o período de tempo mais longo que fiquei fora de casa e mais um pedaço desse Brasil que tive a oportunidade de conhecer.


CONCLUSÃO

Então, só para fazer um fechamento dessa viagem gostaria de fazer alguns comentários.

O Brasil é um pais lindíssimo, as características geográficas dos estados muitas vezes se fundem e às vezes agente cruza fronteiras e se não fossem as placas de divisa não notaríamos que estamos passando de um estado para outro.

Por exemplo o Espirito Santo possui um relevo muito parecido com o de Minas Gerais só que no Espírito Santo o tapete verde que cobre as colinas é mais verde, talvez porque no Espírito Santo a chuva é mais abundante por ser um estado litorâneo.

Já a Bahia é um estado de contrastes, aquele belo litoral coberto por coqueirais e sua maior parte também possui regiões com forte produção de cacau e de café misturados em meio a mata atlântica. Quando nos afastamos do litoral em direção ao interior baiano o cenário muda completamente passando a ser um aspecto mais cinza e árido em alguns aspectos semelhante às regiões áridas do norte da Argentina.

Outro aspecto que me chamou a atenção é a quantidade de frutas exóticas e tropicais que eles tem à disposição lá naquela região norte/nordeste.  Nunca antes tomei tantos diferentes tipos de sucos naturais muito saborosos sem contar a água de coco, nunca tomei tanta água de coco em toda a minha vida.

A única coisa que realmente incomoda viajar de moto (e de carro) no Brasil é o trânsito. Como somos um país rodoviário quase todo o transporte de cargas é feito por caminhões, e como tem caminhões nas estradas, milhares deles, e eles também não tem mais paciência ultrapassam uns aos outros indiscriminadamente. Ainda bem que na Bahia os acostamentos das estradas são muito bons, não tem nem degrau na pista, perdi as contas da quantidade de vezes que tive que ir para o acostamento porque lá na frente vinha uma carreta ultrapassando em faixa dupla, e eles não estão nem aí, só puxam para fora e ultrapassam, o vivente que vem em sentido contrário é que se vire puxando para o acostamento.

Se todas as estradas fossem duplicadas, pelo menos, seria muito bom viajar de carro ou de moto pelo Brasil.

Um outro aspecto que me chamou a atenção foi o preço dos hotéis, em nenhum momento levamos um susto, preços aceitáveis e bons hotéis mesmo em pontos turísticos como Buzios, Guarapari (ES) e Aracajú onde ficamos em hotel bem na orla da praia não pagamos mais que R$145,00 a diária para apto. duplo. Ainda quando eu estava planejando a viagem alguns colegas alertaram de que os preços estariam exorbitantes, não foi o que observei. Apenas o que achei exorbitante é o preço da comida, com algumas exceções na maioria dos lugares os pratos giravam em torno de R$30 a R$35,00 por pessoa.

Resumindo foram 8590km rodados e 441 litros de combustível, uma média de 19,47km/l. De um modo geral gostei muito de viajar com a Versys 1000, a moto possui um pique para retomadas de velocidade sensacional. A moto é muito gostosa de pilotar, macia e sem vibração.

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