Salta

Já fazia mais de dois anos que eu não fazia uma jornada de moto. No ano passado (em 2015) não foi possível, embora eu tenha preparado um roteiro e cheguei a agendar a data em dois momentos e tive que cancelar devido às turbulências que estávamos passando na economia e também na nossa empresa.

Mas agora as coisas estão mais consolidadas e as perspectivas do mercado estão melhores. Fazer uma viagem de moto é a melhor coisa para fazer um reset no cérebro, renovar as energias e voltar com uma nova visão sobre os negócios e o trabalho. Gosto muito disso.

Já fazia algum tempo que eu estava planejando o roteiro e de uma forma ou de outra eu iria partir, se não aparecesse nenhum colega para ir junto eu iria sozinho mesmo o que já era motivo de pânico para minha mulher que até já tinha requisitado a ajuda das filhas para me dissuadir da idéia se tivesse que viajar sozinho.

Mas na última hora apareceu um colega que também estava planejando viajar para aqueles lados de Salta e Cafayate na Argentina. Tive que mudar um pouco meu roteiro para me adaptar ao roteiro dele, afinal ele já tinha ido várias vezes para aquela região e ele queria ver outras coisas. Mas tudo bem, como eu estava indo pela primeira vez para aquela região, de um jeito ou de outro tudo será novidade para mim e com certeza não será a primeira viagem minha para lá.

A Viagem

1º dia – Sábado – 17/09/2016

Por volta de 6:15 da manhã estávamos adentrando na BR 386 em Canoas, RS com o objetivo de chegar em São Borja até às 13:30. Fazer os trâmites da alfândega e seguir para Resistência na Argentina. Total desse primeiro dia, um pouco mais de 1000 km. Almoçamos em São Borja, trocamos a moeda brasileira por moeda Argentina e lá fomos nós rumo à Resistência. As estradas na Argentina são ótimas, pouco trânsito e pouca fiscalização isso permite agente dar umas esticadas no acelerador.

O problema é que nesse caso o consumo aumenta e o problema é que na Argentina tem poucos postos de gasolina, daí se não cuidar você pode ficar empenhado sem gasolina. Foi o que aconteceu comigo, acabou a gasolina faltando apenas 2,7 km até chegar o posto de serviços. O meu colega teve que ir até o posto e buscar uma garrafa de gasolina para mim, ainda bem que o posto estava perto, imagina se tivesse a 50 km?

Em Resistência ficamos no Hotel Cassino Amerian, um excelente hotel 4 estrelas, bonito, confortável, ótimo café da manhã e atendimento de primeira.

2º dia – Domingo – 18/09/2016

Resistência até Salta – 825 KM – dá para percorrer em cerca de 9 horas pois a estrada é boa e é uma reta só.

Por volta de 9:00 da manhã estávamos com as rodas na estrada, bem tranquilo e sem correria bem típico de um domingo de manhã.

O horizonte estava meio fechado com cara de que iria chover, mas no fim não choveu e o clima estava muito agradável. Esse retão que cruza o Chaco argentino rumo à Salta é meio monótono a paisagem resume-se a uma vegetação de cerrado e ao longo da estrada há muitas criações de caprinos, muitos deles vem pastar na beira do acostamento o que faz agente redobrar os cuidados, mas os cabritos são cuidadosos eles não atravessam a estrada de jeito nenhum, ficam calmamente pastando a grama do acostamento, sim isso mesmo, as estradas da Argentina não possuem acostamento asfáltico, é um tapete de grama bem verdinha. De qualquer forma dá pra tocar num ritmo bom na faixa de 140 a 150 km/h na maior parte do trecho. Na altura do município de Mato Quemado uma parada num posto de gasolina para um descanso, abastecer as motos e comer um lanche. Nesse posto é comum se encontrar com outros grupos de motociclistas aventureiros que estão viajando por essas bandas provenientes de várias regiões do Brasil e também da Argentina.

Encontramos dois grupos ali, um por coincidência era amigo meu que já tinha sido meu parceiro em duas outras jornadas. Outro grupo era do Paraná e ficamos conversando com eles um pouco mais e descobrimos que no grupo deles havia tido uma tragédia, um dos colegas do grupo deles se acidentou e veio a falecer lá na Bolívia perto de Santa Cruz de La Sierra. Dava pra perceber no semblante deles uma certa frustração.

Bom, depois de cerca de uns 40 minutos de parada e descanso, com os nossos estômagos e também os tanques das motos abastecidos seguimos em frente rumo à Salta.

Por volta das 18:00 estávamos chegando lá e fizemos a primeira parada num mirante na entrada da cidade e de onde é possível ter uma vista panorâmica de toda a cidade. Um belo cenário que realmente compensa um dia inteiro de pilotagem.

Ao chegarmos no hotel Brisas de Salta, uma certa decepção pois o hotel estava abaixo das expectativas, banheiro com um cheiro horrível e quarto pequeno. Meu colega me deu uns puxão de orelha, disse “que fria que tu nos meteu”. Mas eu também me senti enganado pois pelas avaliações do booking o hotel era muito bom e as fotos também tinham me convencido. Mas agora aprendi a lição, não dá pra confiar muito naquelas avaliações do booking e muito menos confiar plenamente naquelas fotos que eles publicam.

3º dia – Segunda-feira – 19/09/2016

Descanso e passeios em Salta. Aproveitamos o dia para relaxar e fazer tudo em modo slow motion, um tour a pé pelo centro histórico e início da tarde um city tour contratado. Esse city tour rendeu umas risadas. É que no final da manhã falamos com uma moça que estava vendendo os tickets do city tour. Pelo que nós havíamos entendido com nosso escasso espanhol que o passeio sairia ás 12:30, mas a moça tinha dito (dos y media) “14:30” e nós entendemos como 12:30. Chegamos ali por volta de 12:15 e ficamos ali esperando e batendo papo com a moça. Quando me dei conta já era quase 13:00, daí perguntei pra ela, “escuta, mas esse motorista tá atrasado né?”, foi quando ela respondeu, não ainda falta mais uma hora e meia (em espanhol). Daí me caiu os “butiá do bolso”, chamei meu colega CP e disse pra ele, nós estamos enganados é 14:30 e não 12:30, a gente entendeu errado, meio contrariados e zangados fomos então almoçar num restaurante ali perto na outra esquina, comemos um delicioso montado de ensalada. Um prato vegetariano muito gostoso por sinal.

Bom, city tour feito, depois ainda o passeio com o bondinho até o topo de uma montanha de onde se tem a vista de toda a cidade. Acabamos dividindo o bondinho com duas mulheres Européias, uma era da Suíça e a outra da Holanda, até trocamos meia dúzia de palavras em Inglês e Alemão com elas.

A minha única decepção foi que não pude visitar o museu de La Alta Montanha porque ele não abre nas segundas feiras, esse museu é muito famoso pois ali existem os corpos de três criancinhas que foram encontradas congeladas no alto da montanha em perfeito estado de conservação. Conta a história que os antigos povos incas que ali viviam faziam rituais aos deuses e vez por outra eles davam uma criancinha em sacrifício, essa criança era colocada em posição de oração no alto da montanha e ela ficava ali até morrer congelada.

4º dia – Terça-feira – 20/09/2016

Salta até Cachi percorrendo a Cuesta del Obispo – 163 KM – é um trecho curto para o dia de hoje, que faremos bem devagar para poder apreciar a paisagem e tirar muitas fotos.

A maior parte foi por estradas de terra (rípio), com paisagens deslumbrantes. Embora o grau de dificuldade aumente (principalmente no meu caso), as paisagens mais belas geralmente se encontram nos locais mais afastados com acesso apenas por estradas de terra (não asfaltadas) e é por isso que tenho uma moto bigtrail.

Chegamos em Cachi por volta do meio dia, já na entrada da cidade ao lado da ruta 40 havia um restaurante, restaurante não, um galpão, eu acho, pois tudo ali era improvisado. Mas o fato é que ele estava lotado de gente, num primeiro momento achei que era uma festa pois haviam várias vans estacionadas na frente. Bom, eu imagino que pela quantidade de gente ali com vans de turismo o negócio não deve ser tão ruim. Estacionamos nossas motos na frente e mal conseguimos desembarcar já uns 3 ou 4 turistas chegaram na nossa volta com câmeras querendo fotografar as motos. Nunca vi como os Argentinos ficam impressionados quando vêem motos grandes, fica todo mundo na volta fazendo perguntas, querendo saber quantas cilindradas e ficam fazendo fotos.

Fizemos o pedido, é que era tudo à la carte, eu optei por churrasco de cabrito com acompanhamentos de saladas. A Churrasqueira era ali do lado a céu aberto mesmo e haviam várias panelas de alumínio. É melhor nem olhar muito o jeito que eles fazem as coisas, porque daí você nem come, eheheh.

Lá pelas tantas chegou outro motociclista com uma TÉNÉRÉ 250, vimos que ele era do Brasil e estava todo sujo. Resolvemos puxar assunto com ele, resultado, ficamos ali até às 3:00 da tarde batendo papo e falando sobre viagens de moto. Ele nos contou que certa vez fez uma viagem para o deserto do Atacama e levou a mãe dele na garupa, detalhe a mãe dele tinha 55 anos e, diz ele que ela adorou a viagem. Agora eles estão planejando fazer uma viagem lá do Oeste de Santa Catarina onde eles moram até a Patagônia ele com a TÉNÉRÉ 250 e a mãe dele com uma Honda Biz 125.

À noite ficamos no hotel Hosteria Automovil Club Argentino, um excelente hotel, tudo perfeito, restaurante com uma janta magnífica e uma vista panorâmica muito legal.

Quando terminamos a janta um Argentino que estava ali com a família veio conversar conosco, ele também é motociclista (possui uma TDM 900) o cara ficou mais de uma hora conversando conosco nos dando dicas e contando as histórias de algumas passagens dele aqui pelo brasil. Uma delas foi quando ele passou por Porto Alegre e a moto dele, uma Transalp 750, estragou e a concessionária Honda de Porto Alegre se recusou a atender ele. No fim ficamos até com o cartão de visita dele e quando um dia formos passar por Córdoba é pra entrar em contato com ele e marcar uma visita.

5º dia – Quarta-feira – 21/09/2016

Cachi até Cafayate – 196KM – é outro trecho com paisagens de tirar o fôlego, que fizemos bem devagar.

No caminho uma passada na Bodega Colomé – uma das mais importantes vinícolas da Argentina.

Saímos no horário normal acho que umas 8:00 da manhã, a minha moto reclamou um pouco para dar a partida é que de madrugada a temperatura chegou a 5ºC.  Primeiro demos umas bandas ali nos arredores da cidade, é que em Cachí também tem algumas vinícolas (bodegas), diga-se de passagem, vinhos magníficos muito bons mesmo. Acabamos visitando apenas uma delas, o interessante é que ali tudo é mais simples. As construções são aquele estilo bem típico da região, construções baixas e telhados de barro. Aqueles telhados são construídos da seguinte maneira: primeiro vai uma telha de zinco e sobre essa folha de zinco eles colocam uma camada de argila de uns 10 cm. Isso é para preservar do calor desértico da região, quem tem maior poder aquisitivo ainda coloca uma lâmina refletiva para refletir o sol, dessas que nós usamos aqui no Brasil como isolante térmico.

Depois de zanzar um pouco por ali rumamos em direção à Molinos, que é um vilarejo que ficava no caminho para Cafayate e é onde fica a Bodega Colomé. O meu amigo CP queria muito voltar à esta bodega pois ele havia estado lá em 2011.

A estrada, no caso a RUTA 40, nesse trecho é todo de terra (rípio), eu como sou medroso e inexperiente para esse tipo de estrada acabei ficando longe atrás, mas pra mim não importa, prefiro andar devagar e chegar inteiro do que eventualmente correr algum risco e cair.

Ao chegar em Molinos ainda tinha um trecho de 17 kilômetros até chegar na Bodeca Colomé. Aqui sim a estrada era ainda mais difícil, muita areia solta o que dificultou ainda mais minha vida, levamos cerca de 30 minutos para percorrer esses 17 kilômetros.

Mas o sacrifício valeu a pena, o lugar é de cinema. Uma vinícola linda com a mais avançada tecnologia no meio do nada, na volta tudo é deserto, quase não há vegetação, todos os parerais são irrigados com água do degelo da cordilheira.

Enquanto ficamos no saguão aguardando o guia havia ali na nossa volta um grupo de estudantes de ensino médio com suas professoras de Salta, ficaram louco de curiosas e pensaram que éramos europeus. Imagina, Eu e o CP, dois caras loiros de 1,90m de altura com aquelas roupas de motociclista, não tem como não chamar a atenção, eheheh. Todos queriam tirar fotos com agente, me senti um artista de TV, eheheh.

Nisso o guia nos chamou e primeiro assistimos um vídeo institucional de uns 15 minutos (a história é linda dá pra se emocionar), e depois fomos visitar as áreas onde ficam os tanques de fermentação e as barricas de carvalho.

Após a visita, um lanche acompanhado de uma garrafa de vinho, eu até nem queria tomar porque ainda teríamos mais de 100km de estrada de terra pela ruta 40 até Cafayate. Mas o CP acabou me convencendo e dividimos uma garrafa. Uma cena inesquecível, um momento de prazer indescritível, estar na vinícola mais antiga da Argentina e uma das mais importantes do mundo tomando um dos melhores vinhos do mundo naquele cenário. Não preciso dizer que saí dali realizado, porém meio tonto e com as pernas bambas, pensei comigo agora vou ter que andar “sobre ovos” pra não cair com essa moto, eheheheh.

O engraçado é que no retorno esses mesmos 17km agente percorreu em 20 minutos e tive a impressão que foi apenas 10 minutos. Comentei isso com o meu colega, ao que ele respondeu, isso é o vinho na cabeça, risos…

Seguindo em frente depois de Molinos novamente pela ruta 40, paisagens desérticas e montanhas como se fossem desenhadas uma a uma por Deus, cada uma é diferente em todas as suas características. Lá pelas 5:00 chegamos num lugar chamado “Quebrada de las flechas”, um ponto de parada para tirar fotos e admirar aquela paisagem impar. Mas quando parei ali, me deu um revertério na barriga, acho que deve ter sido o vinho, pois não estou acostumado a tomar tanto vinho e vinhos realmente fortes. Eu só disse pro CP já vai indo que eu te alcanço. Nem vou contar o resto da história….

Um pouco antes de Cafayate, acho que uns 20 ou 30km antes, havia um cara na beira da estrada pedindo carona. O CP que vinha na frente, parou e deu uma carona pra ele, o cara era um atleta maratonista e estava correndo e tinha se afastado de seu grupo de treino.

Chegamos em Cafayate já ao entardecer, eu quebradito, todos os 206 ossos e os 650 músculos que eu tenho no corpo me doíam. Pra surpresa nossa lá pelas tantas encontramos o cara que o CP tinha dado carona e toda a sua equipe de maratonista. Descobrimos que ele era um médico e como hoby participava de competições de maratona de condições extrema.

Em Cafayate ficamos na pousada Casa Del Sol que fica na rua San martin 285. O lugar é sensacional, atendimento excepcional e um ótimo café da manhã.

6º dia – Quinta-feira – 22/09/2016

OBJETIVO: Passar o dia em Cafayate, conhecendo os pontos turísticos e visitar mais algumas Vinícolas e descansar um pouco

Hoje a idéia é visitar algumas vinícolas e descansar. Lá pelas 9:00 da manhã saímos para caminhar e eu passei numa farmácia comprar uns remédios, afinal eu ainda não estava me sentindo muito vem. Dores pelo corpo, dor de cabeça e um certo mal estar. Expliquei minha situação ao farmacêutico e ele já me “receitou” alguns medicamentos. A farmácia era uma dessas que vende desde remédios a perfumes, balas e chocolates e até eletrônicos.

Depois de zanzar um pouco por ali pegamos as motos e fomos até o dique Cabra Corral, no caminho paramos em alguns pontos turísticos como o Grande Anfiteatro de uns 300 metros de altura escavado pela natureza em meio à uma montanha.

Chegamos no dique, um reservatório gigantesco de 115km2, já era início da tarde e eu decidi não almoçar, pois ainda não estava bem e achei que seria melhor fazer um jejum para esvaziar minha barriga.

Depois de umas horas sentado ali na sombra seguimos viagem para retornar à Cafayate, eram cerca de uns 120km para voltar. Eu estava tão mal que tive que parar várias vezes com ânsia e até tonturas, esse caminho de volta parecia uma eternidade. Mas graças à Deus cheguei e no fim das contas fiquei bom novamente, à noite deu até pra comer uma tira assada, mas desta vez sem vinho, tomei uma coca cola. O meu colega CP tomou sozinho uma garrafa de vinho branco.

7º dia – Sexta-feira – 23/09/2016

OBJETIVO: Viagem de Cafayate a San Fernando de Catamarca, prosseguindo a rota costeira da Cordilheira dos Andes. Esse dia vai ser um pouco mais puxado 575km. Levantamos um pouco mais cedo e 8:30 da manhã já estávamos com tudo pronto pra pegar a estrada, só havia um porém, o tempo estava meio fechado com cara de chuva. Ficamos em dúvida, colocar ou não as roupas impermeáveis, acabamos saindo assim mesmo, se chover agente para e coloca a roupa impermeável.

Há uma certa altura, acho que depois de termos rodado uns 100km tivemos que parar para colocar mais agasalho pois o frio era cada vez mais intenso. Eu coloquei meu macacão impermeável pois assim pelo menos ele funcionará como quebra-vento e impedirá a entrada do frio. Por coincidência bem ao lado do local que paramos havia uma pista de pouso, segundo o meu colega CP, ali na região existem algumas minhas de exploração de lítio. Tem uma empresa chinesa que está extraindo lítio e levando para a China para fabricação de baterias.

Ao meio dia chegamos em Belén, na província de Catamarca. Uma cidade bem bonita e simpática. Abastecemos as motos e paramos num restaurante para almoçar. Ainda era cedo, 11:30 da manhã o restaurante recém tinha aberto e fomos os primeiros clientes a entrar. Esse intervalo de almoço ali durou mais de uma hora, afinal pra que ter pressa, estamos de férias não é?

Saindo dali seguimos rumo à Andalgalá, tínhamos um plano de ir a Catamarca pela Cuesta del Singuil,  mas ao chegarmos em Andalgalá meu colega achou que seria melhor abortarmos a idéia, afinal já tínhamos andado demais por estradas de terra nesses últimos dias e de certo modo já estávamos cansados de estradas difíceis. Mas eu tentei insistir principalmente depois que conversamos com um argentino que encontramos num posto de gasolina que recomendou muito que fizéssemos esse caminho, segundo ele essa região é considerada uma das mais belas do mundo e é tombado pela Unesco.

Até tentamos seguir um trecho do caminho que dá acesso à essa costa, mas depois de andar uns 2 kilômetros meu colega parou e disse, – Eu vou voltar, se tu quiseres seguir podes ir em frente, nos encontramos em Catamarca. Decidi voltar, pois as condições realmente eram difíceis e já eram 15:00 qualquer imprevisto que acontecer já pode anoitecer e corre-se o risco de ficar em apuros.

Chegamos em Catamarca já ao anoitecer, ainda tivemos que procurar um hotel. Acessei meu app do booking no celular e fiz uma reserva.

Ficamos num hotel bem simples, nem lembro mais o nome e nem recomendaria se lembrasse, eheeheh.

8º dia – Sábado – 24/09/2016

Mais uma vez levantamos sem despertador e pegamos a estrada lá pela 9:00 da manhã, a idéia era subir um trecho pela estrada que leva à Cuesta del Singuil e depois percorrer “la Cuesta del Portezuelo”, ambas as estradas são lindíssimas. Mas fomos apenas por um trecho pela estrada que leva à Costa do Singuil, e depois retornamos por outra estrada que dá acesso à “Cuesta del Portezuelo”. A subida do Portezuelo é linda demais, a cada curva uma visão de tirar o fôlego, dá vontade de ficar horas ali contemplando aquela paisagem. Após subir toda esta costa seguimos pela estrada e passamos para o outro lado no vilarejo de “Lavalle” bem na divisa entre as províncias de Catamarca e Santiago Del Estero. Uma breve parada para um lanche e um pequeno descanso. Depois de abastecer as motos pegamos a estrada novamente seguindo em direção à Santiago del Estero e depois sentido Saenz Peña, mas não foi possível chegar a até lá, um pouco antes do entardecer paramos numa cidadezinha chamada Quimilí. Meu colega estava engripado e muito mal, resolvemos parar ali para pernoitar e descansar. Já que a diária do hotel era bem baratinho pegamos cada um seu apartamento. Ao entrar no apartamento uma surpresa, acho que ele devia ter uns 50m2, dava pra fazer um baile de tão grande que parecia.

9º dia – Domingo – 25/09/2016

Objetivos de hoje: Quimili, passando por Resisténcia, Corrientes e chegando à São Borja já no Rio Grande do Sul.

Hoje levantamos um pouco mais cedo já que a puxada do dia seria longa novamente, como o objetivo é chegar até São Borja no Rio Grande do Sul, teremos cerca de 860km pela frente.

Viagem bem tranquila, depois de passar por Corrientes seguimos novamente pela Ruta 5 que, embora aumente um pouco mais a quilometragem, é bem mais tranquila do que se fôssemos seguir pela Ruta 12 que é bem trancada devido ao excesso de carros e caminhões.

Quando chegamos em Gobernador Ing. Valentin Virasoro, faltando faltando uns 70km até São Borja, tivemos que parar para abastecer, pois o que eu tinha de combustível no tanque não daria para chegar em São Borja, já o tanque de combustível da moto do CP tem capacidade para 33 litros, portanto ele disse que conseguiria se andássemos mais devagar daria para chegar e ele não iria abastecer. O problema era de que eu já não tinha mais pesos e eles não aceitavam dólares nem cartão de crédito. Tive que ir a uma loja de caça e pesca ali perto para fazer câmbio. Troquei 20 dólares o suficiente para colocar uns litros de gasolina para mim e no fim meu colega também colocou uns litros para garantir. No fim das contas coloquei gasolina de menos, deveria ter colocado um pouco mais, chegamos no primeiro posto em São Borja só no cheiro.

Seguimos até Santiago, RS e ficamos no hotel São João Palace que fica ao lado do posto BR, um excelente hotel com atendimento de primeira, mas antes disso fomos jantar no restaurante ao lado do posto, estávamos loucos para comer um feijão com arroz, coisa que não víamos desde a saída do Brasil. Eu comi o que eu mais gosto, feijão preto, arroz e ovo frito com acompanhamento de algumas saladas.

10º dia – Segunda-feira – 26/09/2016 – último dia Santiago até São Leopoldo (443km)

Último dia, saímos por volta das 8:00. O trecho entre Santiago e Santa Maria é muito bonito, alguns trechos de serra com vistas muito lindas e cidades pitorescas como por exemplo Mata que é um dos lugares com a maior quantidade de afloramentos de árvores petrificadas do Brasil e também São Pedro do Sul. No mais a viagem foi tranquila, a única coisa que agente estranha são as estradas quando rodamos aqui no Brasil, pistas irregulares, cheio de buracos, lombadas eletrônicas e todo tipo de obstáculo que tira o prazer de pilotar ou dirigir ao contrário da Argentina, que mesmo sendo considerado país de terceiro mundo possui estradas perfeitas na maior parte dos trechos que você anda.

Por volta das 13:00 cheguei em casa, só troquei de roupa e já fui para o escritório trabalhar.

2 comentários em “Salta

  1. Belo passeio Gilmar, viajei junto com tua narrativa também.
    Belíssimas paisagens e fotos. Interessante a ênfase ao aspecto Big-trail das motos, aproveitaram bem esta característica rodando onde outras não iriam, e atingindo assim belos lugares mais remotos.
    Quanto à viajar sozinho não vejo problema, tem algumas particularidades bem interessantes tipo “fazer o que der na telha” he he! No aspecto segurança sempre há gente muito interessada em ajudar, admiradores como também encontrastes.
    Parabéns pela “empreitada”, e continue aproveitando os prazeres que o moto turismo proporciona.
    Abraço e Boas curvas!
    Ghost Rider

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