Como este ano eu ainda não tinha feito nenhuma longa viagem com a moto eu já estava começando a ficar nervoso. Todo motociclista que se preze deve fazer pelo menos uma viagem longa por ano. Viagem longa eu entendo como qualquer coisa acima de 2000 km.
Levei ela para fazer uma revisão geral, que incluiu a troca do pneu traseiro e também comprei um novo baú traseiro e os dois laterais, afinal eu iria precisar de mais espaço para bagagem pois iria ficar quase 10 dias fora e sem contar que na metade da viagem minha esposa iria de avião até o Rio de Janeiro para me encontrar e passearmos juntos por um final de semana.
A VIAGEM
1º dia – Quarta-feira
Às 10:00 da manhã do dia 28 de Setembro iniciei a viagem pela BR 290 em Porto Alegre rumando para Curitiba, eu já estava duas horas atrasado. O meu objetivo para este primeiro dia era chegar até Registro, SP. Infelizmente isso não foi possível, só consegui chegar até Curitiba, PR. De um modo geral a viagem foi bem tranquila com excessão dos tradicionais pontos de congestionamento como em Tubarão, SC, ali na região de Itajaí e depois próximo a chegada de Curitiba. Nessas horas agente vê a vantagem da moto, pois podemos seguir andando enquanto que todos os carros estão parados, o único problema é quando nos deparamos com dois caminhões lado a lado, daí a situação complica porque ás vezes não sobra espaço.
2º dia – Quinta-Feira (Curitiba até Itapira, SP)
Acordei cedo, preparei as malas, tomei café e às 7:30 já estava pegando a estrada.
Cheguei em Embú (SP) por volta das 12:00, nesse momento o calor já estava insuportável, parei num restaurante que fica junto a um posto. Lubrifiquei a corrente da moto e tirei o fardamento de motociclista ficando só com o colete que costumo usar em viagens de moto.
Aproveitei para almoçar e depois segui viagem rumo à Itapira (SP). Depois da visita a um cliente fui até Pouso Alegre (MG) passando por Jacutinga e outras cidades que fazem parte do pólo de malharias da região sul de Minas.
Cheguei em Pouso Alegre às 19:00 e já fui ficando no primeiro hotel que encontrei na entrada da Cidade, hotel bom e agradável.
3º Dia – Sexta-feira
Levantei por volta das 6:00 da manhã, preparei as malas novamente, e para quem viaja de moto isto sempre é uma função, tomei o café da manhã e às 7:30 estava pegando a estrada. As rodovias de MG, pelo menos as que passei, estão em ótimas condições, pista larga porém com bastante curvas, não dá pra se distrair muito olhando paisagens e para quem gosta de curvas é perfeito. A viagem estava tranquila até chegar em Itajubá (MG), lá o GPS indicou dobrar à direita e tomar outro caminho, por um momento hesitei, mas segui a ordem do GPS e fui seguindo aquele caminho. Porém, a uma certa altura comecei a ficar desconfiado pois a estrada estava começando a ficar cada vez mais estreita e deserta, passei por uns vilarejos não tinha nem gente na rua que pudesse me dar uma informação. Daqui a pouco acabou o asfalto e começou a estrada de terra, casualmente encontrei uma moça de bicicleta, parei e pedi informação. Ela disse que essa estrada iria sair lá em Campos do Jordão, a essas alturas eu nem sabia mais pra que lado ficava Campos do Jordão, indaguei que eu queria ir para o RJ, então ela disse que depois de Campos do Jordão pega outra rodovia e vai para o RJ. Segundo ela seriam 42km de estrada de terra. Bom, cheio de dúvidas segui andando naquela estrada de terra, porém ela estava ficando cada vez pior e estreita chegou a um ponto que parecia que eu estava numa trilha. Acho que rodei uns 10km até que apareceu uma alma viva novamente e pedi informações. O cara me disse que por esse caminho seria muito mais longe e difícil para ir ao RJ, o melhor era voltar até ITAJUBÁ e seguir o caminho natural que eu estava fazendo ainda iria passar por outras cidades menores como Wenceslau Brás, Piquete e por fim Lorena, até chegar na Rodovia Presidente Dutra que liga ao RJ.
De Itajubá até a Rodovia Presidente Dutra foram mais uns 80 km de estradas cheias de curvas, em vários momentos tive a sensação de que estava perdido pois é um lugar totalmente desabitado e não se encontra nenhuma alma viva na estrada que possa dar alguma informação. É uma sensação muito desconfortável você estar pilotando numa estrada que você não sabe onde vai dar e você não tem a menor idéia para o lado que está indo, essa sensação da dúvida faz com que as distâncias pareçam ainda maiores e parece que o fim não chega nunca. Mas graças a Deus, no fim das contas acabei chegando na Dutra que era meu objetivo. Só que naquele momento já era 11:00 da manhã e ainda faltavam duzentos quilômetros até Mesquita (RJ) e eu queria estar lá ao meio dia para poder almoçar com os clientes e ficar pronto até as 14:30.
Os 200 km que ainda me separavam do RJ foram um tanto complicados pois a Via Dutra é bem movimentada dificultando uma pilotagem mais esportiva e eu também não sou daqueles malucos que ficam costurando no trânsito. Por fim consegui chegar ao destino ainda enfrentando um pouco o trânsito caótico do RJ com obras de infra-estrutura por todos os lados o que ainda é um fator complicador, pois o GPS às vezes manda dobrar uma rua que foi interrompida ou mudou de sentido. Cheguei no Cliente exatamente às 14:20, foi quando o telefone tocou, era minha esposa dizendo que já tinha chegado no aeroporto. Eu disse a ela que acabara de chegar no cliente e pedi a ela que esperasse ali. Bom depois de uma hora e meia mais precisamente às 16:00 eu estava indo em direção ao Aeroporto que fica uns trinta quilômetros dali. Tentei andar o mais rápido possível costurando no meio daquele trânsito maluco do Rio de Janeiro. 16:40 estava chegando ao aeroporto e encontrei a esposa, ela como sempre, muito jovial e alegre, mesmo depois de duas horas me esperando.
Ajeitamos as mochilas na moto e partimos dali em direção à Petrópolis (RJ), no caminho, aquele trânsito complicado e caótico do Rio, eu fui andando no meio dos carros aproveitando a vantagem de ter uma moto. Ainda bem que na cidade o GPS funciona bem e eu só fui seguindo os comandos de voz e concentração máxima no trânsito.
Finalmente conseguimos chegar na rodovia de acesso à região serrana de Petrópolis, ufa, que alívio, agora é só subida da serra. Mas a alegria durou pouco, depois de ter rodado alguns kilômetros já começou outro congestionamento, mas desta vez era pior porque a pista é muito estreita e o espaço que fica entre os veículos lado a lado é menor, ainda mais quando o veículo é um caminhão.
Devagar e com cuidado fui avançando entre os carros, no pára e arranca da serra a temperatura do motor foi subindo e a ventoínha não parava de ligar, em síntese levei Uma hora para passar os últimos 15 kilômetros da serra, quando cheguei ao final já estava com as mãos que não aguentava mais, cansaço, suor e o corpo todo dolorido.
À noite saímos para jantar com os nossos amigos e aproveitamos para caminhar um pouco no centro histórico de Petrópolis, muito lindo, as luzes que iluminam as casas e prédios históricos dão um efeito especial digno de cartão postal.
4º dia – Sábado.
O dia amanhece lindo, de manhã a primeira providência foi levar a moto de volta na Concessionária Moto Mundi onde eu tinha comprado ela para dar uma lavada e lubrificar a corrente. Lá como sempre o pessoal é muito atencioso e receptivo e ficamos esperando lá enquanto eles faziam uma geral.
Depois fizemos um passeio pelo centro histórico, visitando o museu imperial, a casa de Santos Dumont e outros pontos turísticos.
Por volta das 16:00 pegamos a moto e rumamos em direção à Minas Gerais, o objetivo era chegar até Tiradentes porém isso também não foi possível, já estava escuro e eu não gosto de andar de moto à noite. Ficamos em Barbacena, cidade que fica uns 50 km antes de Tiradentes. Mas tudo bem, ficamos num hotel muito bom, passeamos um pouco pelo centro da cidade e jantamos pub bem legal que fica no centro. Pedimos uma lasanha que foi uma grande surpresa, nunca tínhamos comido uma lasanha tão gostosa.
5º dia – Domingo
Levantamos bem cedo, 7:00 da manhã já estávamos tomando o café, isto para um domingo de manhã ainda é considerado madrugada, ehehe, principalmente para a Iara.
Por volta das 7:30 da manhã estávamos pegando a estrada. Passamos por Tiradentes, São João Del Rei e Congonhas, infelizmente tivemos que deixar Ouro Preto fora do roteiro porque o tempo estava apertado pois às 16:00 a Iara teria que estar no aeroporto dos Confins em Belo Horizonte.
As estradas do interior de Minas Gerais estão em ótimas condições de conservação, muito bom para pilotar de moto. O único problema foi o calor e a baixa umidade do ar que incomodou um pouco, tínhamos que parar com frequência para tomar água pois a desidratação era muito rápida. Nesta época do ano Minas Gerais está passando por uma longa estiagem e por conta disso as queimadas estão por todo lado, é muito triste ver todas aquelas colinas com milhares de hectares tudo em chamas. Teve um momento em que um filhote de lebre atravessou a rodovia, fugindo do fogo, bem na nossa frente, não pude conter a emoção é realmente uma lástima que em pleno século 21 com tanta tecnologia disponível o homem não é capaz de controlar um incêndio numa floresta e digo mais, quem é o criminoso que provoca o início dessas chamas? Porque isto certamente é provocado por alguém, pois por mais seco que esteja um material é muito difícil ocorrer uma combustão espontânea.
Bom finalmente chegamos à Belo Horizonte e posteriormente ao aeroporto internacional Tancredo Neves, a esposa embarcou de volta para Porto Alegre e eu segui em direção à Contagem para procurar um hotel.
6º dia – Segunda-feira
Levantei cedo, tomei café e me preparei para levar a moto até uma concessionária Yamaha que havia ali próximo ao hotel. O objetivo era pedir para que eles fizessem uma revisão no freio traseiro, pois o mesmo estava apresentando uns probleminhas, parecia que as pinças não estavam retrocedendo adequadamente e a pastilha ficava encostando no disco e ficava atritando. Já aproveitei e pedi para eles revisarem a tensão da corrente e lubrificá-la.
À tarde voltei lá para pegar a moto, estava chovendo forte em Contagem e fui obrigado a comprar uma capa de chuva. Depois de algum tempo saí de lá, passei no hotel para fechar a conta e peguei a estrada rumo à São Paulo. Depois de ter andado alguns quilômetros uma ressonância muito forte me incomodava, parei num posto e fiz uma verificação, achei que pudesse ser o rolamento da roda dianteira, mas é estranho na verdade esse ruído já vinha me acompanhando desde a saída de Porto Alegre, só que agora estava muito mais alto. Liguei para o meu mecânico para expor o que estava acontecendo, nesse instante chegou um motoboy e perguntei a ele onde tinha uma oficina de motos por ali. Ele recomendou uma ali bem perto. Quando cheguei lá, o mecânico examinou e disse que estava tudo em ordem. Segui viagem, porém aquela ressonância muito forte continuava me incomodando, devo ter rodado mais uns 10 kilômetros, quando a chuva parou encostei novamente num posto de gasolina e resolvi examinar a corrente da transmissão. Levei um susto enorme pois a corrente estava tão esticada que parecia uma corda de violão. Imediatamente pequei o meu kit de ferramentas e tratei de fazer o ajuste e também lubrificá-la. Fiquei muito irritado, afinal eu tinha deixado a moto numa concessionária oficial Yamaha e eles me fizeram uma “M” tão grande, se eu seguisse viagem com a corrente naquelas condições muito provavelmente eu ficaria na estrada pois alguma coisa iria estourar com certeza.
Quando o dia começou a escurecer parei num hotel de beira de estrada próximo à cidade de Lavras em Minas Gerais, hotel muito bom e com preço bem acessível.
7º dia – Terça-feira
Como de costume levantei bem cedo, tomei café, preparei as malas e segui viagem. O clima estava agradável e a rodovia Fernão Dias estava com pouco movimento, excelente para uma pilotagem mais esportiva, ehehe. Ao meio dia já estava chegando nos pavilhões do Anhembi, a temperatura continuava agradável e resolvi ficar com a calça de motociclista e o colete. Fui direto até a bilheteria do Salão Duas Rodas e para surpresa minha só iria abrir às 14:00. Que decepção, pensei comigo, e agora, preciso almoçar e estou com sede. Alí no entorno do Anhembi não tem nada, é um verdadeiro deserto, nenhum barzinho ou restaurante, depois de esperar um pouco caminhei até o portão principal onde tinha um ponto de taxi, perguntei a eles onde poderia encontrar água. Prontamente um deles ofereceu água que tinha num bebedouro refrigerado alí do ponto, nossa que alívio, tomei dois copões que me saciariam até poder entrar no Salão Duas Rodas. Ainda antes de ir para a bilheteria voltei até a moto e tirei meu uniforme de motociclista, afinal já estava muito quente e eu já estava suando de calor. Fiquei só com o abrigo, camiseta de manga curta e sandália, ufa que alívio só que a mochila não cabia mais nas malas e tive que carregá-la nas costas.
Depois de duas horas e meia de caminhada eu já estava cansado e achei que seria a hora de pegar a estrada rumo à Piracicaba, pois o tempo em São Paulo estava meio nublado e corria o risco de chover, além do mais eu ainda tinha 150km para percorrer.
Lá pelas 19:00 cheguei em Piracicaba, uma dor de cabeça insuportável, resultado de não ter almoçado, apenas comi um lanche e um suco na praça de alimentação do Anhembi.
8º dia – Quarta-feira
Hoje eu tinha como objetivo visitar um cliente em Piracicaba e posteriormente em Sorocaba. Voltei a pegar a estrada lá pelas 14:00 seguindo em direção à Curitiba. O meu objetivo era passar pela serra de piedade, em primeiro lugar para escapar do fervo da região metropolitana de São Paulo e em segundo lugar ir por um caminho mais tranquilo e belo.
Fui andando devagar, parando para tirar umas fotos e apreciando a natureza daquela serra, no fim cheguei em Curitiba às 20:00 e fiquei no hotel Dunomys que fica na BR 116 ao lado de uma churrascaria enorme e muito boa.
9º dia – Quinta-feira
Reuniões durante o dia num cliente.
10º dia – Sexta-feira
Acordei cerca de 5:30 da manhã, preparei as malas, tomei café e por volta das 7:00 já estava na estrada rumando para casa. Os 760 Km percorridos nesse último dia foram bem tranquilos, só uma chuva fina ali na região da serra próximo à Joinville e depois em Camboriú.
Quando me aproximei do litoral sul de Santa Catarina, um forte vento lateral insistia em tentar me derrubar, foi bem difícil controlar a moto naquelas condições, tive que reduzir a velocidade e redobrar os cuidados, pilotar nessas condições acaba sendo muito cansativo e desgastante.
Por fim às 16:15 estava chegando em minha casa em São Leopoldo.
O saldo da viagem foram de 4753 km percorridos em 9 dias. Graças a Deus deu tudo certo e mais uma experiência para o curriculum de motociclista.